Respirante em ebulição.

Luiza Sarmento, Brazil

29.9.09

Casa onze

Quando eu era bem pequena, meus pais fizeram meu mapa astral, quando completei dezesseis anos pude ouvir a interpretação gravada na fita cassete empoeirada, e algumas das coisas alí reveladas... Bem, deixa pra lá, né! Isso é muito pessoal. Mas o que me marcou foi a supresa com que o tal astrólogo proferiu: "Nossa! Ela tem onze planetas na casa onze!". E eu pensava: "What a hell?". Bem... Pra mim, naquele momento essa afirmativa não passava de um grande desequilíbrio... O que se justifica em alguns singelos aspéctos da minha personalidade. Então, logo veio a explicação: "...a casa onze é a casa dos amigos..." - Que Zora Yonara me corrija se estiver errada.

Anos mais tarde com um pouco de pesquisa à respeito, muitos trânsitos astrais e um amigo especializado no assunto (valeu Tião!), pude compreender a magnitude de ter onze dos meus vinte e oito planetas, reunidos naquele cantinho de cima do meu mapa. Penso que se existe um boteco astral, é lá que se toma a cerva, e pelo jeito tá bombando! Logicamente não me faltaram exemplos na vida para compreender esse fenômeno. Quase todas as minhas maiores tristezas e alegrias me foram proporcionadas pelos meu amigos. Sofro junto, sofro por, sofro com. Da mesma forma e intensidade, as alegrias. Acho que é por isso que me dói encontrar algum desgarrado que se perdeu de mim.

Meu pai sempre me dizia, com seu clássico tom filosofal:"Minha filha, a vida é um trem e as pessoas vão e vem". Apesar da rima infame aquela frase me pareceu lógica e triste. "Mas eu quero todo mundo pra sempre!", e ele: "Mas não vai querer isso pra sempre, não!", e só faltou "Aguarde e verás". E não é que o véio tem razão!

Alguns me deletaram, outros deletei, alguma amizades floresceram, outras cultivei e as mais verdadeiras são tipo "Maria sem-vergonha", quando a gente mais se desespera lá está ela! De braços abertos. Mas todo esse papo de astrologia, foi só pra chegar nesse ponto. Não sou o tipo de pessoa workahollic, ou que ama loucamente a família, ou os próprios amores... Mas os amigos... Esses sim! E se eu puder em todas essas áreas da minha vida, encontrar amigos em cada uma delas, fechou!

Por isso tudo, quero prestar uma homenagem aos meu queridos, e dizer: Senhoras e senhores passageiros, desculpe interromper sua viagem. Eu podia estar roubando eu podia estar matando, mas venho aqui humildemente lhes pedir perdão por qualquer ruído na comunicação, pelo que já dei a perceber, se dentro do vagão o em outra estação, quero agradecer, antes de mais nada, a todos que puderam contribuir. Deixo aqui o meu muito obrigada aos somam e somaram e àqueles que pensam que diminuíram.
Gracias!

A caminho da forca

Adoro trabalhar. Adoro o que faço, mas não me peça pra negociar. Se tem uma coisa que pra mim é desagradável, humilhante e constrangedor, é dizer quanto vale o show. Em profissões convencionais, existem piso, encargos, planos de cargos e salários, direitos, sindicatos, promoções... Mas na minha, não. Quer dizer... Até tem, mas é algo distante e raro. Toda vez que tenho que me defrontar com essa situação, sofro, não durmo, e fico ensaiando o que dizer. Normalmente, me sinto como um robô que transpira.

Me encontro com o predador, tento não pensar no quanto aquilo é difícil, e procuro fazer foco nos argumentos previamente ensaiados, mas não sem antes perder alguns litros de suor nessa batalha. Coloco minha impetuosidade pra escanteio, fico driblando alguns argumentos desfavoráveis e não esqueço de fazer uma mandinga pro goleirão.


Admiro as pessoas que sabem defender seu pirão, diante da farinha pouca. Sei que existem pessoas que me acham besta e até se ofendem, quando eu mando os meus heróis pra fazer as negociações diplomáticas. As vezes penso que existem alguns contratantes que adoram ver seus possíveis contratados numa situação humilhante, só pela frustração que sentem com suas carreiras, com suas famílias, com seus PAUS. E jorram, e se deliciam assistindo esse longo caminho até o acordo, com todo o seu sadismo na ponta da língua. Tenho certeza que se pudessem nos colocariam pra trabalhar de graça, como quem diz: "Você é que deveria me pagar, pra fazer algo no qual você se diverte e ganha fama". Como se toda a diversão fosse o grande prêmio, e a comida, o aluguel, os impostos e até mesmo a própria diversão fora do trabalho, fosse um luxo.

Sei que essa é uma questão que preciso trabalhar na vida, análise e afins, blá, blá, blá... Mas como não posso dizer o que penso pra essas pessoas, pelo menos divido aqui com vocês. E se você aí que está lendo, é alguma delas... Seja gentil comigo.
Me desejem boa sorte!