Respirante em ebulição.

Luiza Sarmento, Brazil

10.12.10

Paranóia 140 caracteres.


Cuidado! Todo cuidado é pouco ao desbravar mares "internáuticos". Com essa onda de frases soltas a 140 caracteres, por post, as palavras ao vento podem operar desde uma neblina cibernética passageira até um temporal de críticas sem proporções. O que era pra ser uma piadinha ingênua pode se tornar ofensa grave, dependendo do contexto extra virtual e do seu receptor... e você só queria se expressar!

É aí que entra uma nova doença, uma febre eletrônica, que acabo de detectar: Paranóia 140 caracteres. O Ministério da Saúde adverte: não se trata de mais um vírus atentando contra seu hard disk. Está mais pra spyware, mas numa versão subjetiva do ego do seu avatar eletrônico, no seu Facebook, Twitter, Orkut (para a galera que curte um ciber vintage) e etc. você se sabe observado e escreve seus posts diários, dando "coices" voluntários e involuntários... até que um dia quem não tinha que se ofender, se ofende. E começa a dar coices aparentemente involuntários, mas se colocar um pouquinho de malícia, é um míssil teleguiado dissimulado. Pronto! Se você conseguiu ver a maldade... é porque já pegou a doença. Tudo passa a parecer teoria da conspiração, ou uma perseguição paranóica.


A notícia boa é que pode passar rápido. Basta dar um block, excluir ou simplesmente dar um hide no sujeito da infame oração e aguardar o fim do mal estar. Resolvido? ...em parte. Apenas por enquanto, e esta é a primeira parte da má notícia (se isso se resumir a questões fora do âmbito profissional). A segunda é que ela é altamente contagiosa e mesmo que você não faça parte do grupo de risco (artistas famosos, celebridades, poetas, jornalistas, advogados, maridos e mulheres ciumentas, fiscalizados e fiscalizadores em geral), a coisa toda é tão dissimulada que quando vê, você já respondeu atravessado a alguém que não compreendeu o que você quis dizer, e você aguarda uma resposta, doido pra contra argumentar e assim travar uma guerra de alfinetadas e ironias (quando sai barato).

E tudo isso acontece em um refresh. Simplesmente pela rapidez e facilidade de acesso às redes sociais. O que era um ruídinho na sua comunicação vira um estrondo, microfonia! E para aqueles que não perdem uma boa picuínha de entrelinhas, está feito! O cenário perfeito! ...e pra explicar que focinho de porco não é tomada?! Dá trabalho, viu!

Outro grupo de pessoas que está muito suscetível são aqueles que gostam de amizades virtuais. E não tem amizade menos exposta, não. Das coloridas às preto no branco, os sentidos brotam nas entrelinhas e quanto maior o ciúme, a emotividade, vaidade, TPM, recalques e congêneres... pior a coisa fica. Meu pai sempre retwitta uma frase que meu avô repetia em seus "posts"analógicos diante das situações da vida: "amor e ódio são pregas de um mesmo tecido". Isso é mais velho que andar pra frente. E não importa se esse tecido está em malha de fibra óptica ou não. Os diálogos costuram as pregas e as entrelinhas fazem o arremate final do acabamento, tudo isso na velocidade da transmissão de dados da sua conecção, cada vez mais veloz. E quando o "amor vira ódio", a espionagem é o mais potente e viscoso fel, que desce azeitando as engrenagens dos mal entendidos.

Dica: trate de abrir bem os olhos, e ter o cuidado de colocar um smille no final das suas frases ingênuas. Para aqueles que sofrem desse mal, exclamação é provocação quando colocada numa sentença que dê margem a múltiplos entendimentos. Mesmo que não tenha sido intencional. Esse é o mundo dos 140 caracteres! Rápido, passional, e milimetricamente contabilizado. Cada letra, cada palavra, cada acento, cada ponto... vale ouro!

Portanto fique atento. Para não comprar brigas gratuitas ou que você não se flagre num duelo quixotesco, contra esses moinhos de ventos eletromagnéticos... como eu, que já estou discorrendo e teorizando sobre eles, certa de que fui contagiada, tento aqui, transformar veneno em remédio.