Respirante em ebulição.

Luiza Sarmento, Brazil

27.8.08

Lições

Mamo
Nas tetas
Da vida
O leite de pedras,
No caminho.
Percorro
Essa Via
Láctea,
Como ela
Percorre a mim.

13.8.08

Eco de Humanidade


E ele disse:
- Você consegue ouvir o som de uma TV, ligada, sem som, com aquela tela preta?

Foi a pergunta do meu namorado, a mim. Fiquei espantada! Eu pensava que ninguém escutava. Pois escutamos nós! O eco da civilização ligada na tomada. E de fato me incomoda. É como se abafasse o grito. Sinto como um portal com vista pra humanidade e sua história, que está fora da área de cobertura ou temporariamente desligado...
Apago a TV como fecho os olhos. Apago a TV como fecho as torneiras. Apago a TV como se dragasse um rio de informações, correndo pro mar que mora em mim. Não!!! Apago a TV porque não quero sentir que o mundo despeja seu dejeto sujo, seu ruído surdo, na minha mente, casa, sonho. Apago a TV, como digo a você, que torno a ligar pra me ver trabalhar... E mais uma coisa (pouca), ou outra... E tá de bom tamanho.

4.8.08

Chupa essa manga!

Por que será que as pessoas têm tanta dificuldade de reconhecer suas falhas? Dá tanto trabalho inventar desculpas, discutir e culpar o outro, que é mais simples se avaliar e perceber que vacilou. E porque não? Não mata ninguém. Pelo contrário. Opera milagres. Mas acredito que as pessoas estejam tão viciadas na argumentação em sua defesa, que não sejam capazes de perceber o ridículo que isso é. É tão óbvio e tão fácil perceber a falta de razão... Nesses momentos tento me manter calma e sorrir, não permitindo que a sujeira do coração do outro permeie o meu, e torço que perceba que tudo pode ser mais fácil.

Outra coisa que venho reparando, é que as mesmas pessoas que assim agem têm dificuldades de pedir desculpas. Viram a página e esquecem que o outro pode estar machucado. Deixando para trás um rastro de mágoa. Mas se é pelo bem e manutenção da paz, vale! ...Porém tudo tem limite. Tais pessoas são muito frágeis, por incrível que pareça! É que quanto mais acuado, mais reativo. São as pessoas da categoria "Côco".


Agora preciso explicar. Sílvia Morgenstern, minha amiga, mitóloga e contadora de história, disse algo que nunca me esqueci, numa daquelas manhãs de aulas na oficina da Globo. Ela disse: tornem-se Berries (... morangos, framboesas)! Cada pessoa tem uma fruta que melhor lhe traduz. Os do tipo "berrie" têm casca facilmente penetrável pequenas sementes que dão uma certa crocância, são ligeiramente cítricas para não serem enjoativas, porém doces, e cabem inteiras na boca. São unidades. O ideal.


Pessoas "melancia" têm casca muito dura, polpa muito aquosa de estrutura leve, vários pequenos caroços, e doce. Normalmente essas pessoas acham que o resto do mundo tem obrigação de saber do seu conteúdo frágil e doce, e esquecem que têm uma casca quase impenetrável. Não se deixam provar facilmente.

Não pensem que também não me medito fruta. Sei bem do meu "caju". Casca fácil de romper, muito suco, doce polpa, tudo se aproveita (inclusive a semente), porém uma cica difícil de encarar e de esquecer. Mas como recomendou minha querida mestra, procuro fazer emergir o morango que mora em mim.

Acho que cada um deveria meditar sobre qual é a sua fruta, e entender que o mundo inteiro não é obrigado a compreender cascas grossas demais e intuir sua doçura, sementes imensas e respeitar sua alma dura, suco demais e achar que o resto todo é seco, doce demais e ser enjoativo, cica demais travando o paladar pro resto da vida, azedume goela abaixo...

Os de casca grossa em geral também têm mais dificuldade com essa compreensão, acha que isso tudo de fruta, é balela, que frutinha é "viadagem" e que essas comparações são demagogia de psicólogos... Normalmente não reconhecem suas falhas e passam a vida brigando com o mundo, protegendo seu conteúdo de ser devorado, e esquecendo que é pra isso mesmo que estamos nessa vida, e gastam seu tempo sem se deixar saborear e perdendo belas oportunidades de colher bons frutos.