Nesses dias de ultracontemporaneidade me encontro cada vez mais assustada. Não falo da violência óbvia e crescente, nem da corrupção, mas da assustadora e agressiva carência da rapaziada. Talvez seja fruto da violência, corrupção ou mesmo, da impotência gerada pela passividade com que as autoridades lidam (ou não) com esses assuntos. Mas sem dúvida alguma a Internet vem estuprando nossas vidas.
Meus termos podem parecer fortes e até dramáticos, mas me recuso a atender as exigências, frustrações e carências de pessoas que não conheço... Tudo isso enquanto tento lidar com as minhas e dos meus próximos.
Semana passada os meninos do "Comédia em Pé", fizeram uma piada que dizia tudo, ao final de mais um "Hora do Blush": "Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas estou aqui pedindo um adicionamento no orkut, um scrap, um depoimento, um beijo um abraço..." Eles têm razão! Não aguento mais me sentir uma figurinha especial, nesse álbum de figurinhas virtual, sendo chamada de MIGUXA, por pessoas que usam a foto de algum ator ou modelo famoso, que criam contas de e-mail, como:lexkesanguebao@vouteencherosacocertamente.com.br. Que saco!
Sinto-me sendo colecionada, e cobrada por isso com exigências e mais exigências de scraps, depoimentos, blá, blá, blá... Gente que nunca me viu e que declara amores infinitos! Pessoas que me desafiam para um duelo intelectual! Eu heim! Que loucura! Não faço parte disso! O que aconteceu com a boa e velha solitude? Só há solitários! Carentes! Adolescentes (de até 80 anos) com uma arma na mão: O mouse! Apontado pra sua foto te cobrando, cobrando. Já fui cobrada até de escrever no blog! O que aconteceu com o silêncio?
A Internet e o orkut são mesmo um fenômeno antropológico! Pessoas que estudaram comigo, e que sequer me davam bom dia, me adicionam, me mandam e-mails, me perguntando qual é o caminho para o sucesso. Hahahahahahahahahahaha! Tem que rir!
Minha vida profissional existe há tempos e nada foi conseguido de graça. Acho até que essa história de livro de auto-ajuda está prestando um desserviço à humanidade. As pessoas perderam a capacidade de encontrar suas próprias respostas para suas questões. Pensar e sentir, dói e dá trabalho. É mais fácil acionar esses livros que se propõem a ser um manual de instruções para a vida, perguntar aos que se esforçam, do que descobrir seu próprio caminho. Que
merda! E eu ainda sou obrigada a dar uma resposta educada a tudo isso.
Semana passada no meu programa na TV Brasil, um índio dizia: "Quando o índio vai morar na cidade o silêncio vai embora, e o que passa a morar em sua alma, é o barulho". Estou cansada dos resmungos, exigências, cobranças, barulhos dos outros. Continuarei preservando e dedicando meu silêncio, meu tempo, minha vida, às pessoas que amo, aos amigos que posso olhar nos olhos, aos amores da boca pra dentro, minha tribo. Só compro os meus barulhos!
