Respirante em ebulição.

Luiza Sarmento, Brazil

8.5.11

Leite derramado em leito.

E então no leito do Sim

Hiberna roncando o sonoro Não

Enroscado no lençol um dia manchado,

Nomeia por pecado o tesão e o beijo puro.

E o suculento amor de outrora,

Sequer pinga.

Resmunga o leite derramado em leito.

Hoje seco, hoje duro

Sorrateiramente retira-se do peito despido

Esticando o seu último olhar comprido por sobre os ombros,

Observa os corpos em escombros,

E como sonâmbulo, despista-nos.

Lamenta marchando firme ao horizonte

Levantando o passo como que para livrar-se da sombra

Que náufraga em nós, também nos abandona.

E lá vai o amor caminhando,

Na certeza de que é no mais escuro da noite fria

Que desponta calmo e luminoso

O novo dia.

`As voltas com Saturno.

Quando Saturno despontou

Me encarei, olho no olho

No espelho. Percebi:

Passei a vida

Tateando imagem refletida.


Quando Saturno retornou:

Iludida, pasma,

Sem tocar a mim mesma,

Perguntei:

Quem eu sou?

Onde estou?

Onde andei?


Súbito

O vento mudou,

A terra tremeu,

O céu escureceu

Um tsunami me lambeu!


Quando Saturno me atropelou,

Me toquei:

Levante-se só!

Desejo é o que te move!

E foi assim que minha história começou:

Mirando o espelho,

Olho no olho,

Me repari aos vinte e nove.