Respirante em ebulição.

Luiza Sarmento, Brazil

28.9.08

Arte. Cuidado!

Quem tem a arte por sua sina, sabe. Ciumenta como ela , não se pode dar as costas. Ela não o deixa esquecer, e vem sempre aos ouvidos soprar seus lamentos. É como um presente vivo - para alguns mais vivo do que para outros, claro! - que precisa ser executado, gastado, suado, amassado, durante todos os dias, por tempo indeterminado.


A arte é coisa tão séria, que suprimi-la pode ser perigoso. Com efeitos colaterais que vão desde um mero e desatento desinteresse no olhar, até uma vida inteira amargada e atrasada por seus ciúmes. Essa vedete fogosa, não se contenta com a sombra. Como todas, procura o seu lugar ao sol, para poder florescer em todo seu brilhantismo, e ser devolvida para o inconsciente coletivo, de onde veio.


Não se deve esquecer! Dom é um presente congênito, que vem como um vírus de fábrica. Para uns, carma, para outros, algo que merece ser retribuído. Portanto, não ousem contrariá-la. Dividam-na com o resto do mundo, que ela sempre será generosa em sua retribuição, ajudando a fazer a roda da vida girar, e obrigar a nós, seres humanos, a nos reavaliarmos.


Mesmo que seja exercida de forma tímida, tem seu valor. Nunca se sabe o tamanho de sua força. Ela pode nos levar aos lugares mais maravilhosos que alguém pode sonhar, regada por aplausos, ou vaias. Sim. Eu disse vaias. Pois elas ferem o ego da arte, e acabam por alimentar sua sede de vingança. Sempre pela superação! Ela nunca perderia a oportunidade de ser ainda mais brilhante.


Fico sempre imaginando... Tom Jobim, por exemplo, teria sido um sacana, se não tivesse dado atenção ao seu talento. Eu mesma teria ficado sem a minha tradução. Meu nome. Dá pra sacar o tamanho disso? A coisa é séria! Imagine se "Eu sei que vou te amar" não fosse a canção de amor de tantos casais. Seria uma história sem trilha sonora. Ou pelo menos uma à sua altura.


E para finalizar. Se toda a sua argumentação racional, colocar dificuldade de horários, carreira, família e principalmente, dinheiro. Lembre-se: Os maiores gênios se consagraram póstumos, e sua arte continuou a ecoar nos olhos, mentes, almas, e corações, do resto da humanidade por mais tempo, que seu tempo de existência.


Uma pessoa que nasce com um dom artístico, está a meio caminho da imortalidade.

10 comentários:

maker disse...

Viver apenas o que está escrito Luiza, apenas o que está escrito, se descobrimos uma fórmula por puro acidente, ao tentarmos reproduzi-la não será mais um acaso. Cuidado com as suas artes menina arteira. Uma ótima semana pra vc!

Tião Martins disse...

um menino fazendo arte
assaltando armários
roubando biscoitos

um menino fazendo arte
roubando corações
fazendo dezoito

um menino fazendo arte
traficando versos
morrendo aos poucos.

bjs,
Tião

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tião Martins disse...

pois é, luiza. pesquei daqui pra lá no melhor estilo da rede. ainda bem que o "peixe" era meu mesmo... rs!

jakared disse...

as vezes arte tem que esperar, alias, quase sempre.

JUCA CAVALCANTE disse...

OLÁ LUIZA! É UM PRAZER CONHECER SEU BLOG.E É BOM SABER QUE EU POSSO TER UM PÉ NA IMORTALIDADE, POIS EU SOU MEIO METIDO A ESCRITOR.
UM ABRAÇO
JUCA CAVALCANTE

Unknown disse...

Oi Luiza, bom lhe conhecer!
Essas suas palavras ecoam aquelas outras lá perto do mar...
Resolvi escrever aqui alguns meus, cometidos à esmo.
Beijo.
Mauro.

Pente Fino

O poeta afina a pena
sua
Chora
Descabela
Mas passa o pente fino na memória eterna
E a caspinha que cai
Serve de lanterna.

Apenas

Dei minha palavra
ao poema
De que valeria à pena
Mas deu pena
Do poema
Ali fazendo cena
Enquanto a palavra
Me depenava.

Se dar por achado

Um achado
Não se acha assim
De bate pronto
Ali do lado.
Tem de ser escavado
Ponto à ponto, muito à fundo
Até ao estado de um encontro
Pra lá de desencontrado
Com o germe de outro mundo.

Branco

Deu um branco
no papel
e o poema
( meu corcel)
pegou no tranco.

Voilá

Maravilhamento!
Momento em que a bolha
Navega o vento
Sem nenhuma escolha.

A Camareira

Olhando a cena aqui de cima
Não sou tão escravo da rima
Quanto se imagina.
Ela
( a rima)
apenas arruma
A minha cama
Quando o poema cisma de ser
e se esparrama.

Ouro Negro

O amor parece fácil
No início
Contra a inércia: cio
Contra a inépcia: vício
Mas depois, que coisa incrível!
Vê-se que é um combustível fóssil
De acesso bem difícil...

Luiza Sarmento disse...

Pronto! Acho que você captou, Mauro! Era exatamente sobre isso que eu falava...
A capacidade de alegrar, nem que seja apenas um, coração.
Obrigada!
Lindos versos!

Unknown disse...

Eu é que agradeço Luiza!
Seu blog é óootimo!
Poesia, dia-a-dia, ventania
Força e afeto...

Se quiser conhecer mais da poesia e das letras de música desse que vos digita:

www.myspace.com/mauroaguiar

além das canções tem um blog lá com todas as "inexplicações".

beijo.
Mauro.

Evaristo Calixto disse...

Luiza escreveu: "Como todas, procura o seu lugar ao sol, para poder florescer em todo seu brilhantismo, e ser devolvida para o inconsciente coletivo, de onde veio."

Vòila! Beijos.